sábado, 14 de agosto de 2010

Na coluna De volta à pré-história, saiba qual o sabor de descobrir as memórias perdidas dos seres humanos e as do passado da vida na Terra

Por: Ismar de Souza Carvalho, Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Publicado em 13/08/2010 | Atualizado em 13/08/2010

(Ilustração: Cruz).

Iniciei o dia de hoje arrumando um velho armário que me acompanha há muitos e muitos anos. É surpreendente a quantidade de coisas que acumulamos com o tempo: canetas que não têm tinta, chaveiros, figurinhas, moedas que já não são úteis e, às vezes, até mesmo um pedaço de chiclete, que ficou esquecido lá no fundo de uma gaveta. Geralmente, o que guardamos por muito tempo, apesar de não ter nenhum valor, faz parte do que existe de mais importante: a memória de nossas histórias e emoções.

Foi assim que encontrei um caderno com a capa amarelada e um pouco amassada, que já não via há pelo menos trinta anos. Tanto tempo, não é mesmo? Porém, foi muito bom tê-lo reencontrado. Nele estavam vários recortes de jornais com notícias que me impressionavam quando eu tinha meus 11 anos. Havia um sobre a descoberta de pegadas de dinossauros na Paraíba, outro sobre uma nova múmia encontrada no Egito. Matérias sobre fósseis úteis para a descoberta de petróleo, textos sobre a origem da vida e mais alguns sobre civilizações pré-históricas. Inicialmente não entendi o porquê de eu guardar recortes de jornais que pareciam tão diferentes. Porém, logo percebi que todos tinham relação com o tempo. Uns falavam sobre o tempo humano, como as notícias das antigas civilizações. Já outros - como o que noticiava as pegadas de dinossauro - eram sobre o tempo geológico: o que é medido em muitos e muitos milhões de anos.

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Arqueólogos fazem uma escavação na Europa (foto: Russel Hugo).
Uma mesma emoção 3
Ramo de um pinheiro de 100 milhões de anos coletado no interior do Ceará (imagem cedida pelo autor).

A diferença da duração do tempo é um dos aspectos que diferencia duas ciências: a arqueologia e a paleontologia. A arqueologia estuda os restos e vestígios das pessoas que viveram no passado. Os objetos de estudo podem ser antigas ferramentas, como os machados de pedra, ou, então, como era a sociedade. A arqueologia tem sempre relação com o passado das pessoas e, por isso, o tempo dos materiais arqueológicos pode ter algumas centenas ou até milhares de anos.

Já a paleontologia estuda os fósseis, que, geralmente, são encontrados em rochas com muitos e muitos milhões de anos, quando os seres humanos ainda nem tinham surgido na Terra. Os fósseis podem ser vestígios de animais, plantas, fungos ou até mesmo bactérias que viveram em nosso planeta. Alguns são gigantescos como os dinossauros, outros só podem ser observados com possantes microscópios, como o de algumas algas fósseis. A idade dos fósseis quase sempre é a de um passado muito, mas muito longínquo da história da Terra.

Porém, há um ponto em comum entre os que se dedicam a essas duas ciências. Os arqueólogos e os paleontólogos compartilham uma mesma emoção: a possibilidade da descoberta do nosso passado, de nossas origens. Descobrir as memórias perdidas dos seres humanos ou as do passado da vida na Terra é como resgatar nossas próprias lembranças guardadas em uma gaveta: é recordarmos de tempos que não mais existem, mas que nos fazem entender quem somos.

Ismar de Souza Carvalho
Departamento de Geologia
Universidade Federal do Rio de Janeiro


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